8 de agosto de 2011

Love*


"Amei-te mil vezes. Amei-te antes de te conhecer, antes do tempo, da vida, de tudo. Amei-te quando ainda não sabia quem eras, quando ainda não tinhas voz, nem nome, nem idade. E disse-to por mil vezes. Por mil vezes to escrevi, em bilhetes, cartas, paredes e postais. Mesmo quando não sabia como to fazer chegar, escrevi-to. Em esplanadas, aeroportos, países com estranhos costumes, lugares sem nome. Por todo esse mundo te proclamei um amor informe, inominável, incompreensível. Passaste mil vezes na minha vida. Dei-te todos os nomes, todas as moradas e aparências. Ou nem te dei nada porque não sabia como. Cruzaste-me em dias sem sol, em nevoeiros sem memória, em roupas desalinhadas, ruas, becos, praças vazias, linhas cruzadas e semáforos fechados. Momentos houve em que me atropelaste as mãos, cravaste unhas, chamaste-me pelo nome e atiraste-me de encontro ao desespero. Foste tudo sem nunca seres nada. Acreditando em ti, vivi só mas nunca sozinha. Fui a inquietação, o desassossego amargo dos quartos de hotel por onde passei, as lágrimas que aprendi a conter, as malas que nunca desfiz, o passaporte em dia e o bilhete para lado nenhum. Fizeste de mim tudo isso e muito mais. E de todas as mil vezes em que te amei jurei a mim própria que seria a última, que depois dessa vez o amor secaria como um pedaço de pele arrancada à vida que mirra até se tornar sudário, mortalha de ninguém. E de todas essas mil vezes, fracassei por completo."

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